Resenha: Dracula - Bram Stoker







Uma figura que sempre me fascinou desde criança, a lenda do personagem Drácula vem sido difundida ao longo dos anos transmitindo medo e deslumbramento por onde passa. Não há quem nunca tenha ouvido falar nele, ainda que nosso primeiro contato com sua história possa ter sido um pouco deturpado. Isso porque, em sua criação original, feita por Bram Stoker em 1897, temos uma figura completamente diferente da que estamos acostumados, e são duas imagens que diferem bastante. 

Baseado no perverso Vlad Tepes, o empalador da Valáquia, pertencente a ordem dos Dracul (draco, em latim - Dragão) , Stoker criou um personagem áspero e aterrorizante, diferente de nossa visão sedutora de um vampiro apaixonado. Ainda que suas releituras sejam ótimas, como por exemplo na incrível produção de 1992 do mestre Francis Ford Coppola, estrelado por Gary Oldman - futuramente irei falar sobre esse filme, porque ele necessita de uma postagem só pra ele - não são cópias fiéis do real Drácula de Bram Stoker. Tendo essa curiosidade em mente, resolvi ler há alguns anos o livro para tirar minhas conclusões.





Um vampiro superestimado?

Comecei a ler "Drácula" achando que seria apenas uma leitura para enriquecer em alguns detalhes o que já se sabia sobre o personagem, pelo fato de, ao meu ver, já ter conhecido e visto tudo o que poderia conhecer e ver sobre ele. Tantas foram as adaptações e releituras, como o clássico filme de 1931 ou a obra de Coppola, citado anteriormente, que achei que não haveria modo de se surpreender com o livro. Não poderia estar mais errada.

Apesar de todo mundo conhecer "desde sempre" o famoso vampiro, em sua aparição original ele é bem diferente da imagem difundida através dos anos. Esqueça aquela imagem caricata que temos ao pensar no Conde, com suas passagens dramáticas e em certos casos, forçadas. No livro que deu origem ao mais famoso vampiro de todos os tempos, Bram Stoker soube aproveitar os momentos certos para passar aos seus leitores um terror psicológico maior do que a criatura em si, que aparece em raros porém estratégicos pontos, o que faz de Drácula um personagem mais "puro" e "real", por assim dizer. 

Apesar do livro ter foco no vampiro, outros personagens recebem muito destaque, como o caso do Dr. Seward, que é responsável por passagens inteligentes, assim como Abraham Van Helsing (a quem Stoker devia se identificar bem, já que deu a ele seu nome - Bram é diminutivo de Abraham), outra peça importante para o desenrolar da história. Uma personagem que de fato surpreende é Lucy, pois com o passar das páginas vemos a personagem evoluir e se modificar drasticamente, tendo muita notoriedade em alguns dos momentos mais aterrorizantes do romance de Stoker. Achei portanto que foi uma personagem subestimada nas adaptações, já que é tão importante quanto Mina Harker, por exemplo. 

Mas, concentrando-se no livro, é necessário salientar que sua estrutura, por ser um romance epistolar, pode ser mais cansativa e densa de se ler. Alguns momentos podem parecer ociosos, por falta de ação ou do próprio terror. Cheguei a pensar em abandoná-lo, mas esses "momentos ociosos" apenas eram antecessores para uma história equilibrada e bem planejada pelo autor. Acabei de ler pensando que gostaria de ter visto mais sobre o tão famoso Conde, outras vertentes talvez, pois seu tempo "em cena" é de fato bem curto. Dessa perspectiva, achei Drácula um personagem superestimado, pois a minha visão desse vilão sempre foi maior do que na verdade é, em seu romance original. Mas depois de analisar um pouco, vi que foram deixadas algumas portas pelas quais nossa imaginação poderia atravessar, em relação ao poder, crueldade e planos do personagem. E provavelmente foram através dessas portas que o restante do mundo mergulhou no universo de Stoker, aceitando sua visão e transformando o personagem no que é hoje. Aí está o real poder de Drácula e a genialidade desse clássico.









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